Edição Set-Out 2024 Publicado em: 12 setembro 2024 | 08:00h

Benchmarking de Indicadores: contexto atual e melhores práticas

Mesa-redonda do 56º CBPC/ML traz as principais referências de controle de qualidade laboratorial no Brasil e no mundo

A mesa-redonda “Benchmarking de Indicadores: contexto atual e melhores práticas" do 56º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial teve a participação do médico patologista clínico Alex Galoro; da biomédica Carmen Paz Oplustil; do farmacêutico-bioquímico Fernando de Almeida Berlitz e do patologista clínico e diretor de Relações Institucionais da SBPC/ML, Wilson Shcolnik.

 

Em sua palestra, o médico Wilson Shcolnik relembrou o quanto o Brasil vem se destacando com relação aos indicadores laboratoriais e hoje já é referência para outros países, ganhando destaque em publicações internacionais.  Ex-presidente da SBPC/ML, Shcolnik  lembrou que o artigo n.54 , da RDC 786, exige que o programa de garantia de qualidade deve ser documentado, e ter a sua efetividade monitorada por meio de indicadores.

 

“A RDC menciona que os laboratórios clínicos precisam comparar seus resultados com outros laboratórios que tenham semelhança. Não precisa comparar o que se faz num laboratório pequeno com um grande, mas é preciso ter indicadores de qualidade adequados”.

 

Dr. Wilson acrescentou que, há um mês, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgou que lançará em breve um edital de chamamento público para a cooperação de entidades na organização de programa de monitoramento da qualidade em medicina diagnóstica.

 

“A ideia é que o público possa avaliar qual é o melhor serviço e escolher onde quer que a sua saúde seja tratada. A ANS vai divulgar resultados de indicadores. O Brasil possui mais de 15 mil laboratórios e a quantidade de unidades com programas de indicadores é insignificante e isso precisa ser melhorado, priorizando a segurança do paciente e o desfecho do seu resultado”, disse Shcolnik .

 

Indicadores laboratoriais: contexto e iniciativas internacionais (IFCC)

Alex Galoro (SP), coordenador do Comitê de Análises Clínicas da ABRAMED e também ex-presidente da SBPC/ML, lembrou que os indicadores “essenciais’ foram discutidos na Reunião de Consenso do Grupo de Trabalho de Indicadores Laboratoriais e Segurança do Paciente da  IFCC, em junho, em Quebec, no Canadá.

 

"Chamamos de essenciais porque não são obrigatórios, mas trabalhamos para isso junto às agências reguladoras. E explicou : “a lista de indicadores essenciais tem foco maior  na fase pré-analítica, que tem maior dificuldade no monitoramento do processo e alguns erros têm uma frequência não tão significativa, mas grandes consequências. Então, o importante é que a gente tenha um monitoramento desses erros para implantar as ações corretivas”, destaca Galoro, patologista clínico da UNICAMP.

 

Foram então definidos seis indicadores:

1 - Erros de identificação na amostra (erro no cadastro e na amostra ) - um erro na requisição pode gerar também um erro na identificação da amostra e por isso esses indicadores foram juntados. A forma mais adequada é puxar todas as requisições do sistema e fazer o denominador do seu indicador. E a métrica proposta é de defeitos por milhão de oportunidade e com isso se calcula a meta sigma;

2 - Recoleta  - Indicador importante para o desfecho do paciente. Considera amostra  inadequada, extravio, problema no transporte, na refrigeração, acondicionamento.  O laboratório tem que ser capaz de fazer esse monitoramento. O número de requisições ou o número de exames mostrará a nova vinda do paciente. E o que vai ser incluído nesse cálculo são essas diferentes causas da recoleta;

3 - Taxa de hemólise - Independente de recoleta ou não, a taxa da hemólise é definida como 0,5 gramas por litro de hemoglobina. Ela já mostra um indicador de desempenho da sua coleta da fase pré-analítica. Vai ajudar para aumentar a adequação de automação e uso de sistema de informação para detecção pelo índice sérico em todas as amostras e reduzir a detecção visual;

4 – Taxa de desempenho inaceitável dos ensaios externos de proficiência dos testes – O teste inadequado no ensaio faz parte do nosso funcionamento e traz a necessidade de atuação, mas é um indicador importante para a fase analítica para demonstrar que está sob controle. É um indicador de bastante importância para o processo de acreditação, para a garantia da qualidade do laboratório;

5 - Turn Around Time (TAT) – É o tempo para liberação do laudo. É uma demanda para se desenvolver junto aos fornecedores do sistema de informação. Esse monitoramento mede o grau de eficiência do laboratório em relação aos seus processos. E deve considerar o tempo a partir do momento que o paciente fez a coleta do sangue, por exemplo. Vai avaliar quanto tempo leva para essa amostra chegar até o laboratório, e entrar no processamento. Não é um indicador fácil;

6 - Taxa de retificação de laudos - Erro no laudo por qualquer motivo tem impacto nos pacientes, então precisa monitorar esse indicador. Ele é um pré-requisito para programas de acreditação no PALC, por exemplo, e a gente precisa ter essa padronização para o  levantamento; e

7 - Indicador de sucesso na comunicação de resultados críticos - Está de stand by porque em outros países não há facilidade de fazer esse monitoramento ainda.

 

Na palestra “O que é essencial medir e como transformar resultados comparativos de indicadores em ações de impacto estratégico para os laboratórios?”,  Fernando Berlitz (RS) - gerente de indicadores da Controllab e membro da Comissão de Acreditação do PALC  - reforçou a importância dos dados na tomada de decisão.

 

“Para termos qualidade, temos que usar a força de trabalho de uma forma inteligente, otimizada e ter performance financeira. E manter a reputação, porque hoje com redes sociais,  perdemos numa tarde o que construímos durante anos. Os indicadores estão aí para nos ajudar a melhorar sempre, e nos ajudar a decidir com menos risco. Um alinhamento de indicadores é um elemento estratégico, ou seja, temos objetivos macros da organização e a gente transforma isso em grandes indicadores para provar que aquilo foi colocado em prática com um desfecho adequado e a gente desdobra esses indicadores para chegar no centro de indicadores mais operacionais, ou seja o indicador do setor que a gente tem no laboratório tem que conversar com os outros indicadores de organização, tem que estar tudo alinhado. Para onde queremos chegar é o que define como a informação vai ser trabalhada.  O indicador é tão estratégico que tem que estar grudado na estratégia de organização”, disse  Berlitz.

 

Na palestra “Indicadores em Microbiologia: como o benchmarking pode apoiar os laboratórios e gerar valor para os pacientes?”, Carmen Oplustil (SP), do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e diretora da Formato Clínico, lembrou que na  microbiologia todos ainda precisam entender os verdadeiros objetivos dos dados.

 

“Na minha visão, o objetivo dos indicadores é monitorar as funções normalmente que estão estáveis. As funções falham e têm um impacto na qualidade do resultado. Por exemplo, contaminação de uma cultura é um dos indicadores. Importante explorar potenciais riscos à qualidade e, na microbiologia, há vários lugares aonde a gente pode olhar isso", afirma Oplustil. 

 

A especialista informou que num recente fórum de microbiologia foram elencados indicadores prioritários, que são:

 

1 - Financeiro – se vale a pena financeiramente fazer os exames internamente;

2 - Recursos Humanos - verificar se tem pessoas suficientes para realizar trabalho e medir produtividade para promover melhoria de processo e adequação das atividades, além de capacitação, com melhorias de processo;

3 – Qualidade - que mede inadequações nos ensaios de proficiência. Controle externo dá abertura para melhorias de processos e manutenção da competência dos trabalhadores. Envolve também melhorias nos insumos que usamos; e

4 - Gestão de desfechos  - É o resultado. Medir se estamos atendendo o que foi esperado, o tempo de resposta. Podemos mudar o fluxo dos processos e fazer com que ela não demore tanto.

 

E complementou: “também são importantes os indicadores para gestão de operação,  gestão de equipamentos, insumos, disponibilidade média dos equipamentos. E também indicadores epidemiológicos, como de resistência bacteriana, e de positividade de alguns exames. Exame certo, no paciente certo, pode também ser visto por positividade. 

 

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