Edição Mar-Abr 2025 Publicado em: 11 abril 2025 | 18:00h

O uso de redes sociais por profissionais de saúde: vantagens, desvantagens e regras

O Instituto Ética Saúde (IES), com o apoio da Associação Médica Brasileira (AMB), apresentou para o Ministério da Educação, no dia 2 de abril, em Brasília, uma proposta de alteração das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Saúde.

O impacto das redes sociais na sociedade contemporânea é inegável. Elas são o palco onde as interações sociais, a troca de informações e até mesmo a construção de carreiras acontecem de maneira cada vez mais acelerada. Para os profissionais de saúde, que já desempenham um papel fundamental no cuidado e educação das pessoas, as redes sociais oferecem uma oportunidade única de se conectar com pacientes e colegas, além de compartilhar conhecimento médico.

No entanto, como qualquer ferramenta poderosa, o uso dessas plataformas vem acompanhado de vantagens, desvantagens e riscos que devem ser cuidadosamente avaliados. Estudos recentes revelam que as redes sociais tornaram-se, para muitos brasileiros, a principal fonte de informação. Segundo dados do Reuters Institute for the Study of Journalism (2023), mais de 60% dos brasileiros acessam notícias e conteúdos diários por meio de plataformas digitais, com destaque para o uso de WhatsApp, Facebook e Instagram. Em uma pesquisa realizada pela Youpix, mais de 80% dos brasileiros entre 16 e 64 anos afirmam ter pelo menos um perfil em alguma rede social. Esses números são particularmente relevantes quando consideramos o papel dos médicos como produtores e disseminadores de informação.


As Vantagens do Uso das Redes Sociais pelos Profissionais de Saúde


1. Acesso a uma Audiência Ampla e Diversificada:
As redes sociais oferecem uma plataforma onde médicos podem alcançar não apenas seus
pacientes, mas também públicos mais amplos, incluindo outros profissionais de saúde e até
mesmo estudantes de medicina. Esse alcance pode ser extremamente vantajoso para
disseminação de informações de saúde, prevenção de doenças e até mesmo educação médica continuada.


2. Fortalecimento da Imagem Profissional:
O uso estratégico das redes sociais pode ajudar os médicos a estabelecerem uma presença
online sólida. Compartilhar conteúdo relevante sobre a prática médica, inovações no
tratamento de doenças ou até mesmo iniciativas sociais pode consolidar a autoridade do
profissional na área. É uma forma de humanizar a medicina e aproximar-se de um público que, muitas vezes, busca respostas rápidas e confiáveis sobre saúde.


3. Suporte para Pacientes e Interação Direta:
Muitos pacientes buscam as redes sociais para tirar dúvidas rápidas, acompanhar tratamentos ou entender melhor seu diagnóstico. Médicos podem usar essas plataformas para criar conteúdos educativos, tirar dúvidas (de forma geral, sem infringir a ética médica) e promover o autocuidado, ajudando as pessoas a tomarem decisões mais informadas sobre sua saúde.


As Desvantagens e os Riscos do Uso de Redes Sociais


1. Falta de Controle sobre a Informação:
Embora as redes sociais ofereçam um espaço para disseminação de conhecimento, elas
também permitem a propagação de informações imprecisas ou até mesmo falsas. Os médicos precisam estar atentos a essas questões, pois a presença em plataformas onde qualquer pessoa pode compartilhar conteúdo sem verificação pode prejudicar a credibilidade do profissional e até colocar pacientes em risco.


2. Confusão entre o Público e o Profissional:

As redes sociais funcionam de maneira informal, e é fácil para médicos se envolverem em
discussões públicas ou compartilharem opiniões pessoais que podem ser mal interpretadas. Existe o risco de que um posicionamento fora de contexto, mesmo que pessoal, seja associado à imagem do médico, prejudicando sua reputação profissional.


3. Violação da Privacidade e Ética Médica:
Compartilhar informações sobre pacientes, mesmo sem identificar diretamente a pessoa, pode ser uma violação da privacidade e do sigilo médico. O Código de Ética Médica estabelece que médico deve respeitar o sigilo profissional e a privacidade do paciente, mesmo após a morte deste, e isso também se aplica ao ambiente digital. A tentação de compartilhar casos clínicos ou interações com pacientes pode ser grande, mas isso pode acarretar sérias consequências jurídicas e éticas.
Em resposta a essa crescente interação entre médicos e redes sociais, o Conselho Federal de Medicina (CFM) recentemente divulgou o Manual de Publicidade Médica, que traz diretrizes claras sobre o uso de plataformas digitais pelos profissionais de saúde. O documento visa garantir que o marketing e a publicidade nas redes sociais sejam feitos de maneira ética, respeitando a confidencialidade dos pacientes e evitando práticas que possam comprometer a credibilidade da medicina.


Acesse o manual aqui: https://portal.cfm.org.br/videos/coheca-e-acesse-o-manual-de-
publicidade-medica-do-cfm


O manual destaca pontos essenciais, como a proibição de publicações que sugiram resultados garantidos ou milagrosos, o uso excessivo de depoimentos de pacientes, e o
compartilhamento de informações que possam induzir o público a tratamentos sem a devida orientação médica. Além disso, o CFM enfatiza que o médico deve garantir que sua presença online esteja alinhada com os princípios da profissão, como respeito à autonomia do paciente e à dignidade humana.


Outro ponto importante é a exigência de que os profissionais se identifiquem corretamente
nas redes sociais e que não utilizem sua imagem de forma a gerar expectativas irrealistas nos pacientes. O médico também deve estar atento à questão da publicidade disfarçada: divulgar produtos e serviços sem deixar claro que se trata de uma promoção é uma infração grave.


Como Usar as Redes Sociais de Forma Responsável
Diante de todos esses pontos, como os médicos podem utilizar as redes sociais de maneira
eficiente e ética?


1. Escolha bem as plataformas e o tipo de conteúdo:
Foque em plataformas que permitam um maior controle sobre a informação
compartilhada, como blogs ou LinkedIn. No Instagram e no Facebook, invista em
conteúdo educativo e informativo, como posts sobre saúde, prevenção e dicas de
bem-estar.


2. Mantenha a ética profissional:
Evite dar conselhos médicos individuais, especialmente se forem conclusões baseadas
em informações limitadas. A ética médica deve ser o guia para todas as suas ações,
tanto online quanto offline.

3. Engajamento transparente e honesto:

Se você promove ou endossa algum produto, deixe claro que se trata de uma
colaboração ou patrocínio. E lembre-se de que suas postagens devem sempre refletir a
sua prática profissional de forma responsável e respeitosa.

4. Invista em sua educação digital:


Procure se atualizar constantemente sobre as melhores práticas nas redes sociais,
incluindo aspectos de segurança digital e gestão de crises. Participar de cursos de
marketing médico pode ser um bom começo. O uso das redes sociais pelos médicos é uma oportunidade valiosa de ampliar a comunicação com o público, promover a educação em saúde e construir uma imagem profissional sólida.

No entanto, esse uso deve ser acompanhado de responsabilidade, sempre pautado pela ética, respeito à privacidade dos pacientes e pela constante atualização sobre as normas
regulatórias, como o Manual de Publicidade Médica. Ao adotar boas práticas, os profissionais de saúde podem colher os benefícios dessa nova era digital, sem perder a credibilidade e a confiança do público. As redes sociais são ferramentas poderosas, mas, como todo poder, seu uso deve ser consciente e equilibrado.