Biomarcador aumenta chances de prever a pré-eclâmpsia na gestação
*Por Luciana Ferreira Franco
A internação recente da cantora Lexa por pré-eclâmpsia trouxe à tona os riscos dessa grave complicação na gravidez. A condição, que pode ter consequências fatais para mãe e bebê, levou ao parto prematuro de sua filha, que não resistiu e faleceu três dias depois. Esse caso reforça a necessidade de avanços no diagnóstico precoce da pré-eclâmpsia, um distúrbio que acomete aproximadamente 3% de todas as gestações e representa um grande desafio para a medicina.
A pré-eclâmpsia é uma condição médica grave que ocorre durante a gravidez, caracterizada pelo aumento da pressão arterial e sinais de comprometimento de órgãos, como rins e fígado. Geralmente, manifesta-se após a 20ª semana de gestação e pode evoluir para complicações sérias, tanto para a mãe quanto para o bebê.
A causa exata da pré-eclâmpsia ainda não é completamente compreendida, mas acredita-se que envolva problemas no desenvolvimento dos vasos sanguíneos da placenta. Embora, na maioria dos casos, a evolução da pré-eclâmpsia, quando bem acompanhada, seja benigna, alguns casos podem progredir para outras condições clínicas graves, como acidente vascular cerebral hemorrágico, insuficiência renal e hepática, coagulopatia, edema agudo de pulmão e óbito.
A predição da pré-eclâmpsia com base apenas na história materna apresenta limitações. A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia recomenda que todas as gestantes devem ser rastreadas para pré-eclâmpsia no primeiro trimestre de gravidez utilizando a combinação de fatores de risco maternos e biomarcadores. A identificação de um subgrupo de risco para pré-eclâmpsia possibilita promover um seguimento pré-natal diferenciado, com diagnóstico prematuro das manifestações clínicas da doença e prevenção das suas complicações, antecipando as intervenções terapêuticas.
Diante desse cenário é importante contar com biomarcadores confiáveis que auxiliem no rastreamento e diagnóstico da pré-eclâmpsia, no entanto, o diagnóstico definitivo é baseado na associação com os critérios clínicos, como presença de hipertensão e proteinúria. Alguns biomarcadores estão associados à fisiopatologia da pré-eclâmpsia e são considerados um critério importante para detectar esta condição, com valores de referência voltados para o monitoramento clínico. Entre eles destaca-se o PIGF (fator de crescimento placentário).
O uso do biomarcador PIGF tem revolucionado o diagnóstico da pré-eclâmpsia, permitindo a identificação precoce da condição e intervenções mais eficazes. Ele reflete a função placentária e pode antecipar o diagnóstico, ajudando na tomada de decisões médicas. Em casos suspeitos, níveis abaixo de 100 pg/mL podem ser indicativos de risco aumentado de pré-eclâmpsia, enquanto valores inferiores a 12 pg/mL apontam alto risco de complicações, como a prematuridade.
Além do PlGF, outros biomarcadores como sFlt-1 (sFms-like tyrosine kinase-1) também são usados em combinação com PlGF para melhorar o diagnóstico e o prognóstico da pré-eclâmpsia. Um índice sFlt-1/PlGF elevado pode indicar maior risco de pré-eclâmpsia grave. A incorporação de biomarcadores na prática clínica pode transformar a detecção e o manejo da pré-eclâmpsia, reduzindo riscos maternos e neonatais e tornando a gestação mais segura.
*Luciana Ferreira Franco é médica patologista clínica, Diretora Administrativa e Financeira da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML).