Edição Jul-Ago 2025 Publicado em: 04 julho 2025 | 16:49h

Doença Residual Mínima e Espectrometria: novos marcos no monitoramento do mieloma múltiplo

Durante apresentação em evento especializado, especialistas debateram os avanços no monitoramento do mieloma múltiplo, com destaque para a doença residual mínima (DRM) e o papel emergente da espectrometria de massas como ferramenta diagnóstica.

A tradicional análise citomorfológica, embora útil, mostrou-se insuficiente para avaliar a clonalidade e a persistência subclínica da doença, exigindo técnicas mais sensíveis para detectar a presença de células tumorais residuais após tratamento intensivo. O tema foi debatido durante o Encontro de Especialidades Médicas promovido pela SBPC/ML, no dia 04 de julho. Os palestrantes são Elyara Maria Soares, João Carlos de Campos Guerra e Roberto Magalhães.

Mesmo pacientes que atingem resposta clínica completa, incluindo transplante autólogo e uso de múltiplos agentes terapêuticos, frequentemente apresentam recidiva. Isso impulsionou o desenvolvimento e padronização de métodos de DRM, incluindo citometria de fluxo multiparamétrica e sequenciamento de nova geração (NGS) — com capacidade de detecção de até uma célula tumoral entre 100 mil células da medula.

 

Dr Joao Carlos de Campos Guerra com demais participantes do evento

Estudos europeus, como os conduzidos pelos grupos de Salamanca e Laueza, demonstraram que a negativação da DRM tem valor prognóstico superior às classificações tradicionais de resposta (parcial, muito boa ou completa). A sustentação da negatividade ao longo de múltiplas avaliações mostrou-se ainda mais relevante.

Espectrometria como aliada estratégica

A espectrometria de massas surge como ferramenta de alta sensibilidade para *detecção e diferenciação de imunoglobulinas monoclonais, incluindo a distinção entre bandas oligoclonais e recidiva verdadeira, especialmente útil no contexto pós-transplante. A técnica também se mostra promissora na substituição da imunofixação em protocolos de resposta completa, como sugerem estudos recentes.

Além disso, a espectrometria pode ser aplicada no monitoramento por sangue periférico, evitando punções frequentes de medula óssea. Essa estratégia é especialmente relevante em pacientes em manutenção, possibilitando avaliações seriadas menos invasivas. O uso combinado com a detecção de células tumorais circulantes pode representar um avanço na monitorização longitudinal do tratamento.

Impacto clínico e implicações econômicas

O uso da DRM não se limita à estratificação prognóstica. Há crescente interesse na utilização desses dados para guiar decisões terapêuticas, como a modulação de esquemas de manutenção. Especialistas apontaram que o investimento em DRM pode representar maior custo-benefício do que manter pacientes em uso prolongado de anticorpos monoclonais sem necessidade clínica clara.

Além disso, a incorporação da espectrometria pode permitir uma revisão dos critérios atuais de resposta no mieloma, adaptando-os às novas tecnologias disponíveis — como já discutido por grupos internacionais e aprovado por agências regulatórias como a FDA em contextos de ensaios clínicos.

Perspectivas

O mieloma múltiplo caminha para uma nova era de monitoramento molecular de alta precisão, em que medula óssea, sangue periférico e tecnologias ômicas se complementam para oferecer uma visão mais clara e precoce da resposta terapêutica. A expectativa é que, em breve, protocolos clínicos rotineiros passem a incorporar avaliações personalizadas de DRM, transformando o paradigma de acompanhamento e contribuindo para decisões terapêuticas mais assertivas e custo-efetivas.

A SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial) realiza o evento em conjunto com a Associação Brasileira de Espectrometria de Massas - BRMASS, Sociedade Brasileira de Patologia – SBP, Sociedade Brasileira de Triagem Neonatal e Erros Inatos do Metabolismo - SBTEIM, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - SBEM, Academia Brasileira de neurologia - ABN, Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia - ABHH, Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica - SBOC, e Associação Brasileira de Nutrologia - ABRAN. 

Entre os patrocinadores estão: The Binding Site, Sciex, Waters e Roche.

Veja abaixo a programação completa:  

 08:59 - 09:00 - Diretoria Biênio 2024-2025

 09:00 - 09:30 - Abertura oficial com Boas Vindas aos Participantes
 
 09:30 - 10:00 - História da Técnica

10:00 - 10:30 - A técnica e suas diferentes aplicações

10:30 - 11:00 - Proteômica e Metabolômica no diagnóstico de Câncer

11:30 - 12:00 - Mieloma Múltiplo e Doença Residual Mensurável

12:00 - 12:30 - ICP-MS na avaliação de Oligo elementos

12:30 - 13:00 - O exame toxicológico de larga janela de detecção (Exame do Cabelo)

14:00 - 14:30 - A aplicação da Espectometria de Massas na Avaliação Tecidual

14:30 - 15:00 - Maldi Tof - A quebra de paradigma na identificação dos microorganismos

15:00 - 15:30 - Teste do pezinho - A primeira aplicação na rotina do laboratório clínico

15:30 - 16:00 - Drogas Imunossuoressonas por espectometria de massas na avaliação do transplantado renal - Pós e Cons.

16:30 - 17:00 - LC-MS/MS na avaliação do painel de hormônios esteróides

17:30 - 18:00 - Biomarcadores para Alzheimer em plasma

18:00 - 18:30 - As Ceramidas na Avaliação Fisiopatológica da Aterosclerose

18:30 - 20:30 - Coquetel de Encerramento

As fotos do evento poderão ser acessadas pelo Flickr da SBPC/ML. 

Confira mais sobre o evento:

https://noticias.sbpc.org.br/noticia/espectrometria-de-massas-a-tecnica-e-suas-diferentes-aplicacoes-palestra-de-elvis-medeiros-medico-perito-ressalta-a-capacidade-de-identificar-compostos-em-concentracoes-infimas