Publicado em: 18 setembro 2025 | 15:00h

Os desafios e caminhos da jornada focada em Segurança do Paciente em debate

Segurança versus qualidade, uso racional do laboratório, aplicação de IA e indicadores como estratégia das operações

Os procedimentos e as rotinas dos laboratórios, incluindo, seus pontos sensíveis foram debatidos na mesa  “Precisão que Salva: Segurança do Paciente depende do Laboratório - Integrando práticas laboratoriais seguras à jornada do cuidado”, realizada nesta quinta-feira (18) do 57º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/ Medicina Laboratorial. Especialistas de áreas diretamente ligadas à medição de riscos, atentos à qualidade de serviços e às operações trouxeram suas perspectivas sobre o sensível tema, que pode implicar na perda de vidas quando medidas de segurança não são cumpridas. 

Paola Andreoli, doutora em Ciências da Saúde pela UNIFESP-EPM e presidente da Sociedade Brasileira para Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente, apresentou a palestra “Segurança do Paciente - status atual e desafios”. 

“É uma mesa muito importante para todos nós que estamos no sistema de saúde como um todo, mas que, antes de tudo, somos pacientes desse sistema de saúde. Mas não sobre falar só de segurança, mas de falar de qualidade como um todo. A segurança do paciente traz a perspectiva do paciente muito presente no nosso dia a dia. É diferente da gente fazer controle de qualidade”, lembrou ela, com a experiência de quem está trabalhando com qualidade e segurança do paciente há mais de 20 anos, em hospitais de alta complexidade de São Paulo. 


Na mesa apresentada posteriormente ao Dia Internacional da Segurança do Paciente, comemorado na quarta-feira (17), Paola trouxe ainda dados da Organização Mundial da Saúde que mostram que em outros países, a gente tem orçamentos dedicados à segurança do paciente, e o Brasil não tem ainda. 

“A gente tem alguns mecanismos de governança que estão instalados no mundo. E, no Brasil, a gente está a alguns passos atrás. Aqui, a gente também não tem política pública relacionada à qualidade e segurança. O que temos é um programa, mas temos uma expectativa muito boa de mudar esse cenário”, espera ela.  


Wilson Shcolnik, coordenador da mesa, e diretor de Relações Institucionais da SBPC/ML, com atuação na mesma área do Grupo Fleury, apresentou em seguida a palestra “O que já sabemos sobre Segurança do Paciente e Laboratório Clínico - Compreendendo marcos, evidências e desafios atuais. O que está por vir?”. 

“A gente está numa fase em que a inteligência artificial  potencializa essa análise de dados. Então, muitos dados laboratoriais reunidos com dados de outras fontes vão nos ajudar a entender a saúde da população com possibilidade de predição também de doenças. E a utilidade clínica, esse é um conceito que a gente precisa inserir nas nossas vidas. Em inglês se diz action level information, porque as informações são para permitir que os médicos atuem, tomem decisões e ajam. Essa é a expressão-chave que vai nos orientar. Por isso que o professor Mario Plebani, há muitos anos, chamou a nossa atenção dizendo que a gente não devia ficar focando apenas na questão pré-analítica do nosso processo, mas sim, na importância da utilização do resultado. Como os clínicos”, atestou ele.


Bruna Dolci Andreguetto Mesquita, médica patologista clínica, coordenadora do Comitê de Qualidade da SBPC/ML e diretora de sistemas de Gestão Integrados no Grupo Analiza Brasil, trouxe desde o título de sua palestra uma enxurrada de questionamentos: “Como dar segurança aos processos laboratoriais? Do pré-analítico ao pós-analítico. Como gerenciar riscos? A importância de notificar incidentes. Como atuar sobre eventos adversos causados  por erros laboratoriais”. 

“Se não é seguro, não é cuidado, é o que diz a OMS”, provocou Bruna, ao abrir sua apresentação, para seguir: “Quantas situações a gente vê hoje na mídia de situações relacionadas a laboratórios trazendo algum tipo de dano para os nossos pacientes, e como a gente está acompanhando isso? A gestão de risco do laboratório e a segurança do nosso paciente não pode ser só um documento burocrático, tem que ser vivo, tem que ser todo dia, toda hora, porque o risco está aí, ele está na nossa operação. Então, a gestão dos riscos, ela precisa ser um conjunto de ações, de pensamentos, decisões e procedimentos do nosso dia a dia, todo dia. A estratégia é trabalhar a cultura justa, a gente começar a deixar de lado quem foi e por que isso aconteceu, mas entender como aconteceu. Definir quais são as nossas contingências, tem que ter resposta rápida para o dano, aprender a notificar a Anvisa dos nossos erros, dos nossos eventos adversos, e não deixar  escondidinho na gaveta”, aconselhou. 


A bióloga Ana Paula Chaves Sobral Gomes, supervisora de Acreditações e Indicadores na Controllab, compartilhou sua experiência de mais de 10 anos atuando em controle de qualidade para os segmentos da medicina diagnóstica, controle interno, ensaio de proficiência e especificação da qualidade, ao desenvolver sua visão no tema “Indicadores laboratoriais de segurança do paciente: A importância de medir, monitorar, interpretar e comparar indicadores”. 

“Todo bom indicador deve cumprir minimamente cinco critérios, eles precisam ser relevantes, compreensíveis, mensuráveis, benéficos e atingíveis. O principal ponto é que ele precisa ser relevante para a gestão. Os indicadores também precisam ser viáveis, ou seja, ter um acesso contínuo de dados para que isso permita que a gente tenha um monitoramento desses dados, desses indicadores propriamente ditos. A gente precisa que eles sejam, de fato, confiáveis, que tenham consistência nos dados. Todos esses dados precisam ser auditáveis para que eles sejam consistentes e aí, sim, ele possa mostrar para vocês o que aquele processo está querendo dizer e isso ajuda também na tomada de decisão”, defendeu ela. 


Annelise Correa Wengerkievicz Lopes, médica e diretora médica de patologia clínica da Dasa e diretora de marketing e comunicação da SBPC/ML, falou sobre o tema “O laboratório como guardião clínico de decisões personalizadas e de alto impacto : processo laboratorial e automação”. A especialista apresentou uma linha do tempo  da evolução do diagnóstico laboratorial, além do aumento da carga de trabalho laboratorial, com a evolução de demandas crescentes nos últimos anos e estudos realizados nos Estados Unidos que mapearam que cerca de 28% casos de má prática estão associados a erros de diagnóstico, sendo que o país registra cerca de 40-80 mil mortes por ano por erro de diagnóstico.

“O número de testes aumentou, mas o número de profissionais não acompanha o aumento dessa demanda”, analisou ela, para em seguida, contextualizar a evolução da prática médica, tendo saído da intuição clínica para um cenário de sobrecarga de informações, que também poderá ser diminuída através da adoção de um conceito: “O Laboratory Stewardship trata do uso racional do laboratório. E não é sobre economizar os exames, mas sim, solicitar o teste apropriado, da maneira apropriada, no momento apropriado, no paciente apropriado e na quantidade apropriada”.

 

ACOMPANHE A COBERTURA COMPLETA DO 57CBPCML AQUI