Edição Mai-Jun 2025
Patologia Clínica & Medicina Laboratorial sob o ponto de vista dos docentes
O laboratório é muito mais do que o local onde os exames acontecem. É um espaço de investigação, decisão e aprendizagem. Nesse mês, em que o dia do Patologista Clínico será comemorado em 31 de maio, a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) homenageia os profissionais que, para além da atuação técnica e diagnóstica, assumem um papel essencial na formação dos futuros médicos: o de ensinar, com um olhar ao paciente através da lente da ciência laboratorial.
Apesar de sua relevância, a Patologia Clínica ainda enfrenta um obstáculo importante no ensino médico: a ausência de disciplina nos currículos obrigatórios da maioria das faculdades.
“O maior desafio em ensinar Patologia Clínica para os estudantes de medicina atualmente é a inexistência da disciplina na maioria das grades curriculares dos cursos médicos”, afirma a Profa Leila Antonangelo, médica patologista clínica e Professora Titular da disciplina de Patologia Clínica do Departamento de Patologia da FMUSP. Para ela, o caminho é na integração: “É fundamental que o patologista clínico estabeleça parcerias com outras disciplinas, demonstrando o quanto a Patologia Clínica agrega valor nas atividades interdisciplinares.”
A especialidade, muitas vezes invisível aos olhos do estudante nos primeiros anos de graduação, torna-se um elemento indispensável entre a teoria e a prática clínica. Adagmar Andriolo, médico patologista clínico, Professor Titular da disciplina de Clínica Médica e Medicina Laboratorial da EPM-UNIFESP, destaca esse ponto: "a especialidade de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial possui um conteúdo programático que será utilizado por médicos de todas as demais especialidades. A interação com os graduandos é de fundamental importância para que aprendam a utilizar bem os recursos do laboratório, independentemente da especialidade que seguirão após a graduação."
O patologista clínico Leonardo Vasconcellos, Diretor de Ensino da SBPC/ML, lamenta o pouco interesse dos estudantes de medicina pela especialidade. Segundo ele, a sociedade médica tem investido em eventos acadêmicos para fortalecer a importância da Medicina Laboratorial como especialidade médica.
“Além de participarmos de diversos eventos pelo Brasil, apostamos no sucesso do EducaMedlab, nossa plataforma online com coleções de aulas gratuitas sobre os principais temas da medicina laboratorial, contribuindo para uma formação médica mais completa”, destaca o diretor.
A experiência no Hospital das Clínicas da FMUSP mostra que é possível — e necessário — transformar o laboratório em sala de aula viva. A professora Antonangelo coordena atividades práticas com turmas reduzidas, casos clínicos, quizes em grupo, discussão direcionada e até aulas de IA Inteligência Artificial e telemedicina. “O aluno de medicina está ávido por entender o papel do laboratório no cálculo clínico”, explica. “É inexorável a necessidade de incorporar novos conhecimentos científicos e novas metodologias de ensino”, ressalta.
Essa abordagem prática, que vincula teoria, tecnologia e realidade clínica, desperta o interesse dos alunos e revela o verdadeiro papel do Patologista Clínico: ser um conversor de dados em decisões.
“Uma estratégia que parece surtir efeito é demonstrar a utilidade prática dos conhecimentos dessa área nas discussões de casos, nos quais a informação laboratorial tem relevância”, pontua o professor Andriolo.
Além de ser uma especialidade médica com formação sólida — graduação, residência de três anos e possibilidade de atuação em áreas como biologia molecular, genômica, microbiologia, hematologia e gestão —, a Patologia Clínica se apresenta como campo fértil para a docência e a pesquisa. “Aqueles que vislumbram seguir carreira acadêmica precisam ser focados desde a residência, já pensando no doutorado e na construção de um currículo sólido”, orienta a Profª Leila.
Para o professor Leonardo, ser Patologista Clínico e docente é, ao mesmo tempo, gratificante e desafiador. Ele destaca que a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a SBPC/ML, conduz uma pesquisa para mapear como o ensino de Patologia Clínica é oferecido nas escolas médicas do Brasil. "Infelizmente, poucas faculdades contam com patologistas clínicos em seu corpo docente. Seria um sonho se mais instituições seguissem o exemplo da UFMG, onde temos um departamento exclusivo para o ensino de exames laboratoriais. Somos 16 patologistas clínicos docentes, oferecemos seis disciplinas obrigatórias, além de optativas, pós-graduação e residência médica em Patologia Clínica", destaca o Prof. Leonardo.
No ensino da medicina atual, onde o excesso de informação desafia professores e alunos, o papel do Patologista Clínico é transmitir o que realmente importa: pensar. "Ensinar é uma atividade de mão dupla. Tem de haver transmissão de conhecimento e tem de haver receptividade", reflete Prof. Andriolo.
"Cabe ao professor a difícil missão de apoiar o aluno na longa caminhada do aprendizado. Cabe ao aluno se municiar das informações básicas que sustentam suas atitudes na prática médica."
Neste 31 de maio, a SBPC/ML celebra não só os profissionais da Patologia Clínica, mas também os educadores que fazem da medicina laboratorial um campo essencial de formação médica. Ensinar Patologia Clínica é ensinar ao médico do futuro a pensar com evidências, agir com precisão e cuidar com segurança.