Edição Mai-Jun 2025 Publicado em: 12 maio 2025 | 11:01h

Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML): Aspectos técnicos laboratoriais da dosagem de testosterona em mulheres

Recentemente, as entidades médicas brasileiras SBEM, FEBRASGO e DCM-SBC emitiram a nota conjunta “Uso de Testosterona na Mulher” (3 de maio de 2025), na qual destacam que a dosagem sérica de testosterona não é indicada para diagnosticar “deficiência androgênica” nem para justificar o uso em casos de baixa libido. A única indicação válida da dosagem é na investigação de hiperandrogenismo (por exemplo: síndrome dos ovários policísticos, tumores, hiperplasia adrenal congênita, síndrome de Cushing). A testosterona declina gradualmente com a idade, sem queda abrupta na menopausa; não há ponto de corte laboratorial validado para “deficiência androgênica feminina”.


A SBPC/ML ratifica esses pontos e acrescenta as seguintes recomendações técnico laboratoriais:


1. MÉTODO DE DOSAGEM:
• Espectrometria de massas é o padrão-ouro, oferecendo maior precisão e exatidão nas baixas concentrações encontradas em mulheres.
• Imunoensaios são mais acessíveis, porém podem carecer de acurácia para detectar alterações discretas de androgênios; sempre que possível, dar preferência à espectrometria de massas.


2. INFLUÊNCIAS BIOLÓGICAS:
• Em mulheres, as concentrações de testosterona variam discretamente ao longo do ciclo menstrual, com pico modesto na fase intermediária.
• A coleta, nos casos de indicação clínica de dosagem, deve ser realizada pela manhã, quando a variação diurna é menos acentuada que em homens, mas ainda presente.


3. INTERVALOS DE REFERÊNCIA:
• Não há padronização universal para faixas de referência femininas.
• Até o momento, não existe ponto de corte que caracterize “deficiência de testosterona” em mulheres.


4. CONTROLE DE QUALIDADE LABORATORIAL:
• Os laboratórios devem manter programas rígidos de controle interno e participar de programas externos de avaliação da qualidade para assegurar a confiabilidade dos resultados.
• A SBPC/ML recomenda a participação dos laboratórios em programas de acreditação da qualidade laboratorial.


5. INTERFERÊNCIAS ANALÍTICAS:
• Biotina (vitamina B7) pode interferir em diversos imunoensaios hormonais, inclusive na dosagem de testosterona. Tal interferência não ocorre na espectrometria de massas.
• Orientação: suspender suplementos contendo biotina por, no mínimo, 48 horas antes da coleta de sangue.


6. MONITORIZAÇÃO DE PACIENTES EM TERAPIA:
• Mulheres que utilizam testosterona para Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH) podem se beneficiar da dosagem para evitar níveis suprafisiológicos; contudo:
o Os valores podem flutuar conforme forma farmacêutica, dose, local e horário de aplicação;
o A interpretação deve integrar dados clínicos e farmacológicos;
o Não existe formulação de testosterona aprovada pela ANVISA para uso feminino no
Brasil até a presente data.
• Devem ser informados ao laboratório o uso da medicação, a via de administração e o
último horário de aplicação, para adequada avaliação dos resultados.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em síntese, a dosagem de testosterona sérica em mulheres, embora útil em contextos específicos de hiperandrogenismo ou monitorização terapêutica, requer:
• Método analítico adequado (preferencialmente espectrometria de massas);
• Preparo pré-analítico correto, incluindo suspensão de biotina por 48 horas;
• Coleta no período matinal;
• Interpretação cuidadosa, sempre correlacionada ao quadro clínico.


A SBPC/ML permanece à disposição da comunidade médica e laboratorial para esclarecimentos adicionais e reforça seu compromisso com as melhores práticas em medicina laboratorial.
Rio de Janeiro, 8 de maio de 2025.

Alvaro Pulchinelli Júnior - Presidente da SBPC/ML - Biênio 2024/2025

Annelise C. Wengerkievicz Lopes - Diretora de Comunicação e Marketing - Biênio 2024/2025 

Leonardo de Souza Vasconcellos - Diretor de Ensino da SBPC/ML - Biênio 2024/2025

Pedro Saddi Rosa - Coordenador do Comitê de Endocrinologia - Biênio 2024/2025