Edição Nov-Dez 2025 Publicado em: 06 novembro 2025 | 14:15h

ChatGPT no laboratório? Inteligência artificial ganha protagonismo na medicina diagnóstica durante jornada de inovação da SBPC/ML no Fisweek

Especialista destaca que ferramentas de IA – tais como Gemini, Claude e NotebookLM – quando bem utilizadas, podem contribuir na fase pós-analítica e na humanização do cuidado em saúde

A inteligência artificial deixou de ser tendência e passou a integrar, de forma prática, a rotina de médicos patologistas clínicos e laboratórios. Essa foi a principal mensagem da palestra apresentada pela endocrinologista e especialista em medicina laboratorial Milena Ribas, presidente da regional Ceará, Piauí e Maranhão da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial, durante a jornada de inovação da SBPC/ML no Fisweek, nesta quinta (6), no Rio de Janeiro. 

Para a médica, o papel da IA é otimizar tempo, reduzir tarefas repetitivas e permitir que o profissional concentre seu conhecimento no que é insubstituível: a análise diagnóstica e o cuidado humano. “Tudo isso com objetivo de a gente poder ter muito mais tempo para usar a nossa criatividade para o que importa e delegar para a IA o que pode ser delegado para ela”, afirma.

Milena Ribas apresentou ferramentas como ChatGPT, Gemini, Claude e NotebookLM e demonstrou como elas já contribuem para atividades essenciais da prática laboratorial: organização de pesquisas, elaboração de aulas e artigos, transcrição e síntese de reuniões, comunicação com colegas médicos e, especialmente, apoio à fase pós-analítica dos exames. Ao interpretar e comunicar resultados, a inteligência artificial se destaca como uma ferramenta essencial para potencializar a atuação do patologista clínico.

A médica ressalta que a IA pode ser usada para interpretar casos clínicos mais difíceis, sugerindo possíveis causas fisiopatológicas e quais exames adicionais devem ser realizados. 

"Quando surgem resultados laboratoriais inesperados, como alterações hormonais isoladas, a tecnologia ajuda a identificar se são situações benignas, aponta condutas seguras e oferece justificativas clínicas bem fundamentadas. Para os laboratórios, isso representa ganho de tempo, padronização das interpretações, diminuição de erros e fortalecimento do papel consultivo do médico", comenta Ribas.

Milena apresentou a evolução da inteligência artificial para mostrar que o que usamos hoje é resultado de um processo gradual. Começou com a chamada narrow AI, sistemas criados para realizar apenas uma tarefa específica como interpretar exames de imagem e filtrar spam de e-mails. O salto aconteceu com a chegada dos modelos generativos, como o ChatGPT, que conseguem produzir textos, resumos e hipóteses clínicas. 

“Mais recentemente surgiram os modelos multimodais, que são capazes de compreender e combinar diferentes tipos de dados e gerar respostas a partir dessa integração. Isso permite, por exemplo, que um sistema analise um resultado laboratorial, uma imagem de lâmina e um relato clínico ao mesmo tempo”, explica. 

A importância do prompt de qualidade

A especialista destaca ainda que a qualidade das respostas da IA depende da formulação de bons prompts, ou seja, perguntas ou instruções claras, contextualizadas e específicas. Quanto mais completo e bem direcionado é o comando dado à IA, mais consistente e confiável é o resultado devolvido. No entanto, alertou para desafios que exigem cautela: possibilidade de informações falsas, vieses algorítmicos, proteção de dados sensíveis e a urgência de regulamentação do uso da IA na saúde.

Assim, a incorporação da inteligência artificial no cotidiano dos laboratórios não representa uma substituição do olhar humano, mas uma parceria responsável e estratégica que eleva a prática médica a um novo patamar. Com decisões mais assertivas, comunicação qualificada e processos mais eficientes, o patologista clínico reforça seu papel central no cuidado ao paciente. “A IA não substitui o profissional de saúde, mas potencializa sua atuação. Na patologia clínica e na medicina laboratorial, a tecnologia amplia a precisão diagnóstica, otimiza processos e devolve tempo ao médico para o que nenhuma máquina entrega: empatia, escuta e raciocínio clínico”, conclui.