Edição Jul-Ago 2024 Publicado em: 06 setembro 2024 | 13:29h

Aulas Magnas 2024: atualizações essenciais para a prática clínica

 

As aulas magnas do Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial são as palestras de destaque ministradas por especialistas renomados que atuam na patologia clínica e áreas correlatas da medicina laboratorial. Com uma minuciosa curadoria orientada pelos especialistas da SBPC/ML, essas aulas são uma oportunidade única para atualização de conhecimentos.

 

Os temas das aulas magnas de 2024 foram selecionados pela relevância para a saúde na atualidade, contribuindo para a formação contínua, disseminação de conhecimento e desenvolvimento profissional dos participantes.

 

Confira as aulas que serão apresentadas no 56º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica:

 

Biomarcadores da doença de Alzheimer, por Anna Lidia Wojdała

 

 

A sessão “Biomarcadores Laboratoriais da Doença de Alzheimer: Passado, Presente e Futuro” tem como objetivo discutir os biomarcadores da doença de Alzheimer no líquido cefalorraquidiano (LCR) que estão sendo implementados na prática clínica, bem como a transição do LCR para o plasma, que pretende revolucionar o campo. O papel dos biomarcadores em fluidos tem conquistado o seu lugar entre as primeiras terapias modificadoras da doença que estão se tornando disponíveis e são o principal interesse de pesquisa do grupo da professora Charlotte Teunissen, líder do Laboratório de Neuroquímica no Centro Médico da Universidade de Amsterdã. Os achados do grupo serão apresentados na palestra magna pela pesquisadora Anna Lidia Wojdała.

 

A doença de Alzheimer está entre as doenças neurodegenerativas mais comuns e deve alcançar uma prevalência de 78 milhões de indivíduos até 2030. A medição precisa de biomarcadores selecionados em fluidos reflete com precisão os processos patológicos da doença, auxiliando os clínicos na tomada de decisão, especialmente em pacientes nos estágios iniciais, para os quais as opções de prevenção secundária podem inibir um declínio cognitivo adicional.

 

“Estudos recentes demonstram que níveis anormais de biomarcadores em fluidos podem refletir mudanças patológicas anos antes da manifestação clínica da doença”, destaca  Wojdała. A pesquisadora cita os critérios mais recentes para diagnóstico e estadiamento da doença de Alzheimer (Jack C. et al., Alzheimer's & Dementia, 2024), que incluem a medição de biomarcadores no líquido cefalorraquidiano (LCR) e no sangue para diagnosticar a doença de Alzheimer biológica, principalmente em indivíduos sintomáticos, e também em indivíduos assintomáticos em ambientes de pesquisa.

 

Em seu laboratório, a equipe utiliza plataformas proteômicas de alta capacidade, como o Olink®. “Para os biomarcadores de proteínas candidatas mais promissoras, são projetados, desenvolvidos e validados ensaios imunológicos direcionados para detecção sensível e específica no LCR e/ou sangue”, comenta a pesquisadora.

 

Por se conectar diretamente com o sistema nervoso central, o LCR reflete com precisão a patologia cerebral, enquanto o sangue é de fácil acesso e adequado para amostragens repetidas. Técnicas como o Ensaio Imunoenzimático (ELISA) e tecnologias ultrassensíveis, como o arranjo de molécula única (single molecule array), são utilizadas conforme a necessidade de sensibilidade do ensaio e nível de automação.

 

Os novos ensaios são usados para comparar os níveis de biomarcadores em pacientes ao longo da doença de Alzheimer com aqueles avaliados em indivíduos saudáveis, alinhando-se ao conceito de medicina de precisão e visando melhorar o perfil molecular dos pacientes.

 

A trilha do diagnóstico na direção da oncogenômica, por Augusto Fernando Soares

 

Augusto Fernando Soares

 

A palestra do Dr. Fernando Augusto Soares é fundamentada na importância atual da integração das disciplinas: “mais do que nunca, falar em patologia integrativa e diagnóstica nos dia de hoje é fundamental”, comenta o médico. Sua aula aponta para as visões modernas para onde a saúde deve caminhar nos próximos anos.

 

A partir de uma reflexão de como a anatomia patológica evoluiu para chegar à patologia molecular, o Dr. Soares propõe discussões sobre o que os profissionais das áreas correlatas precisam fazer para se tornar cada vez mais relevantes na medicina de precisão com a atuação objetiva e próxima dos oncologistas.

 

O médico também chama a atenção sobre a importância de uma formação acadêmica de valor: “espero que o público da minha aula entenda como a integração entre as disciplinas é fundamental, e isso só pode fazer aqueles que tiverem formação acadêmica forte”, enfatiza.

 

Para ele, a patologia clínica é o maior exemplo de integração entre áreas, ao relacionar a anatomia patológica e a medicina diagnóstica: “não é possível fazer uma biópsia de medula sem saber o hemograma ou o mielograma. Eu sempre atuei com essa prática integrativa e agora, com o advento da patologia molecular, mais do que nunca”. O especialista exemplifica citando o seu trabalho que envolve tecidos e biópsia líquida como elementos essenciais à patologia clínica.

 

Quem é Fernando Soares: médico graduado na Faculdade de Medicina e Ciências Médicas de Santos, com residência em Anatomia Patológica pela Faculdade de Medicina de Botucatu, e mestrado e doutorado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em Patologia Humana.Professor visitante na McMaster University, no Canadá e no Cross Cancer Institute, em Alberta, Canadá. Foi livre docente pela Oncologia da Universidade de São Paulo e professor titular na Faculdade de Odontologia da USP, na Patologia Geral.

 

Sua formação acadêmica sempre foi voltada para a identificação de novos biomarcadores e a aplicação desses, especialmente no campo da oncologia. Sempre atuando como patologista e anatomopatologista, construiu sua carreira em três locais, principalmente na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, onde permaneceu até 1996. Posteriormente foi para o Hospital AC Camargo como chefe da anatomia patológica, por onde atuou por 20 anos. Atualmente é chefe de patologia da Rede D´Or.

 

O papel do laboratório na sustentabilidade, por Luis Claudio Correa

 

Luis Claudio Correa

 

Essa aula magna é uma reflexão a partir de uma visão crítica da necessidade dos médicos se aprimorarem em relação ao processo de decisão com o atual uso apropriado de recursos e, nesse caso, de exames de patologia clínica.No decorrer de sua trajetória profissional, o médico cardiologista Luis Claudio Correa, desenvolveu uma relação muito próxima com a patologia clínica. Em primeiro lugar, pelo lado científico, desenvolvendo por muitos anos diversos projetos de pesquisa relacionados a biomarcadores com risco cardiovascular, como troponinas, troponinas de alta sensibilidade, marcadores inflamatórios. “Essa proximidade acadêmica com a patologia clínica e os profissionais da área resultou em oportunidades de palestrar em edições de congressos da SBPC/ML, sempre convidado pelo médico José Carlos Lima”, relembra o cardiologista.

 

Por outro lado, a sua atividade clínica e de ensino, lidando com a utilização de exames e o ensino da medicina baseada em evidências, considerando dados científicos de acurácia dos métodos, também o aproximaram da patologia clínica: “Sempre discuti muito a acurácia de testes diagnósticos e a sua utilidade dentro do escopo do uso apropriado e inapropriado de testes diagnósticos”, comenta.

 

Os debates envolvendo o que se chama de super utilização ou overuse dos testes, a acurácia do desempenho para utilização e o real valor dos exames diagnósticos fazem parte do escopo do ensino da medicina baseada em evidências clínicas, que estabelecem a proximidade do Dr. Correa com a Sociedade.

 

Quem é o Dr. Luis Claudio Correa: médico cardiologista e clínico, segue uma sólida carreira acadêmica e científica no Brasil. Nos últimos anos tem atuado nos Estados Unidos na academia e nas ciências, principalmente em assuntos relacionados à Epidemiologia na área Cardiovascular.

 

Doutor em Medicina da Saúde, livre docente em Cardiologia, professor adjunto  na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e Epidemiologista na Emory University, em Atlanta, nos EUA.

 

Organogênese cerebral in vitro e suas aplicações, por Alysson R. Muotri

 

 

Alysson Muotri é professor da Universidade de San Diego e especialista em organoides cerebrais (mini-cérebros), derivados de células-tronco. Suas pesquisas inovadoras mimetizam o comportamento do cérebro humano em modelos reduzidos, oferecendo novas perspectivas para o estudo de doenças neurológicas. É o biólogo brasileiro com maior número de publicações científicas de alto impacto da atualidade. E foi um dos primeiros pesquisadores a cultivar células-tronco embrionárias. Por meio de sua tecnologia de mini cérebros, a startup brasileira criada por Muotri ajudou a demonstrar a relação entre a versão brasileira do vírus da Zika e como ele atua causando malformações do córtex e levando a essa condição neurológica.

 

“Quando suspensas em líquido, essas células neurais comprometidas se auto-agregam espontaneamente e formam pequenos aglomerados tridimensionais organizados que se assemelham à estrutura anatômica do cérebro humano fetal. Agora chamamos essas estruturas de 'organoides cerebrais' ou 'mini-cérebros' na cultura pop. A vantagem desses organoides é que eles reencenam a maneira como o cérebro humano se desenvolve no útero. Ao contrário de um cérebro de camundongo que está totalmente formado em cerca de 20 dias, leva nove meses para um organóide do cérebro humano se tornar semelhante no nível molecular, celular e funcional ao cérebro de um bebê recém-nascido”, explica o médico em entrevista recente ao G1.

 

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