Como laboratórios clínicos ajudam a prevenir riscos químicos
Na mesa Jornada da Toxicologia Laboratorial, realizada durante o 57º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (CBPC/ML), a biomédica Maria Clara Sampaio, com dez anos de experiência em toxicologia, apresentou os principais pontos da toxicologia ocupacional e ressaltou a relevância dos laboratórios clínicos para a prevenção de riscos químicos no ambiente de trabalho.
“A toxicologia tem um papel essencial, não apenas no monitoramento da saúde dos colaboradores, mas também da população em geral", destacou Maria Clara. Segundo dados citados pela palestrante, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima cerca de 12 mil casos de intoxicação por dia no Brasil, número que não se restringe ao ambiente ocupacional. Nesse cenário, os exames laboratoriais se consolidam como ferramentas fundamentais de vigilância e acompanhamento.
Ao tratar da importância da toxicologia ocupacional, Maria Clara explicou que a área busca mapear os efeitos tóxicos das substâncias químicas tanto a curto quanto a longo prazo. “Na prática, os trabalhadores raramente estão expostos a um único agente, o que reforça a necessidade de medidas preventivas e de proteção adequadas", reforçou.
Sobre os fatores pré-analíticos, a especialista destacou que cuidados na coleta e no acondicionamento das amostras são determinantes para resultados confiáveis. “O resultado em toxicologia é sempre uma fotografia do momento da coleta”, explicou. O tempo de meia-vida biológica das substâncias, acrescentou, influencia diretamente a interpretação dos resultados e pode exigir recoletas. Como exemplos, citou o chumbo, que pode permanecer nos ossos por décadas, e o manganês, que tende a se acumular no cérebro.
Em relação às normas regulamentadoras, Maria Clara ressaltou a relevância da NR-7 (2020) e suas atualizações, que definem substâncias, indicadores biológicos, momentos de coleta e índices de exposição. “É fundamental interpretar corretamente a norma e refletir essas exigências nos laudos”, observou. Entre os marcadores de referência, ela destacou o chumbo no sangue, o mercúrio na urina e o ácido tricloroacético.
Por fim, ao abordar o papel dos laboratórios clínicos, Maria Clara reforçou a responsabilidade de garantir resultados fidedignos e em conformidade com a legislação. “O laboratório clínico junto com a toxicologia ocupacional nunca vai apenas liberar um laudo. Há todo um cenário por trás para garantir a saúde dos colaboradores”, afirmou, acrescentando que a toxicologia ocupacional é um campo amplo, que demanda conhecimento aprofundado dos processos químicos, interpretação clínica integrada e rigoroso cumprimento das normas. “Esse é o caminho para proteger trabalhadores e, consequentemente, toda a população”, concluiu.