Edição Set-Out 2024 Publicado em: 11 setembro 2024 | 16:30h

“A Patologia Clínica é uma especialidade fascinante!”

O autor da frase é o Dr. Fernando Augusto Soares, durante Aula Magna do 56º. CBPCML

A Aula Magna dessa quarta-feira (11) contou com a apresentação do Dr. Fernando Augusto Soares, médico, mestre e doutor em Patologia Humana, livre docente pela Oncologia da Universidade de São Paulo e professor titular na Faculdade de Odontologia da USP, na Patologia Geral. Tendo dedicado sua formação acadêmica à identificação de novos biomarcadores e a sua aplicação especialmente no campo da Oncologia, ele traçou um histórico da patologia clínica, afirmando que, ao longo dos anos, a medicina passou por transformações profundas nos campos científico, tecnológico, social e econômico, entretanto a patologia clínica ficou de fora.

 

Ao trazer a citação: “Aspectos diferentes da doença são realçados pelos geneticistas, o citologista, o bioquímico, o diagnosticista clínico etc., e é a difícil tarefa do patologista em trazer a síntese de todos estes aspectos” (W.A.D. Anderson, 1948), Soares demonstra o quão complexo e completo é o trabalho do médico patologista clínico.

 

Patologia, a partir do grego, significa “estudo da doença” (adaptado).


Porém, hoje a melhor definição para a patologia clínica é o entendimento de como as anormalidades celulares e genômico-moleculares definem uma doença. Durante mais de 80 anos o diagnóstico anatomopatológico se baseou nos aspectos morfológicos e na experiência do observador, agora, o diagnóstico precisa ser integrativo e o profissional que tem essa capacitação é o patologista clínico.

 

Dentro dessa realidade, o Dr. Fernando Soares apresentou desafios para a Anatomia Patológica e o primeiro deles é sobreviver enquanto especialidade médica. Nos anos 1980, ela foi ameaçada pela imuno-histoquímica, pois um técnico poderia “ler” o diagnóstico a partir da reação do anticorpo na lâmina. Nos anos 2000, com a mapeamento do genoma, seria possível revelar todas as alterações a partir do mapa genético. E, mais recentemente, a Inteligência Artificial estaria apta a substituir os patologistas clínicos, já que os algoritmos computacionais poderiam estabelecer o diagnóstico.

 

O palestrante apresentou um estudo publicado em 2022 pela Deloitte apontando as áreas mais e menos promissoras da Medicina nos próximos 10 anos. A Oncologia Clínica aparece como uma das mais promissoras, enquanto que a Anatomia Patológica está no ranking com menos demanda. Para ele, este é um discurso dissonante e equivocado, visto que é necessário um diagnóstico integrativo. Nesse sentido, a IA já vem ajudando e poderá auxiliar ainda mais, tornando objetiva e mais fácil a vida do patologista clínico em diversas fases como: reconhecimento de áreas tumorais, alterações vasculares, porcentagem de tumor, controle de qualidade (reconhecimento de preparações pobres, insuficientes e que necessitam novas abordagens), previsão de alterações moleculares.


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Segundo o Dr. Fernando Soares, o Patologista Clínico do futuro terá amplo conhecimento de ciências biológicas com capacidade de translação dos conceitos, estará em sintonia com as tecnologias da informação, terá conhecimento de fármaco-economia e princípios éticos consolidados para tomar as decisões corretas, entretanto, ele pontuou que as Residências Médicas precisam acompanhar as mudanças da Patologia Clínica Brasileira. O desafio de garantir a patologia clínica nas Faculdades de Medicina.

 

Dr. Fernando Soares alerta que quase 70% das universidades de Medicina no Brasil não ensinam o residente a discutir essa especialidade, muitas sequer têm Imuno-histoquímica disponível.

 

Dr Fernando Soares

 

“Não há laboratórios de patologia molecular e programas são mal formulados. Por conta disso, muitos alunos de Medicina não sabem o que a patologia clínica faz. Não há como se entender ou aprender patologia sem a colocar no contexto da estrutura e função celular normal”.

 

Professor visitante na McMaster University e no Cross Cancer Institute, no Canadá, Dr. Soares pontuou que a formação de um médico-pesquisador tem de ter ordem e lógica e que a Patologia Acadêmica e Diagnóstica deve ser aprendida de uma nova maneira de modo que torne o patologista participativo desta nova era de Medicina.

 

Para finalizar, ele afirmou: “o conhecimento em Anatomia Patológica evoluiu a ponto de transformação a própria definição e entendimento de sua atuação, sendo necessário agregar os conhecimentos dos últimos 40 anos para o melhor atendimento dos pacientes. A formação em Anatomia Patológica sofre uma tremenda crise e é necessário resgatar a credibilidade da especialidade que integra a excelência no diagnóstico, na avaliação preditiva da terapia e na investigação científica. A Anatomia Patológica dentro de uma estrutura hospitalar precisa agregar valor, quer seja no atendimento diário, quer seja na contribuição na geração de dados que retroalimentem a qualidade global no atendimento de nossos pacientes. A Anatomia Patológica em uma estrutura hospitalar não faz sentido se não tiver ampla integração entre os novos achados e as suas implicações, com todos os serviços clínicos, servindo amplamente como uma ponte translacional.”

 

As próximas gerações têm grandes desafios: integrar os dados clínicos, morfológicos e moleculares, formar patologistas e pesquisadores de qualidade, pensar em inovação e criar produtos que possam ser aplicados na prática diária.

 

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