Publicado em: 18 setembro 2025 | 07:00h

Avanços na pesquisa mostram como novos testes laboratoriais podem transformar o diagnóstico e a tomada de decisão em casos de lesão cerebral traumática leve

No segundo dia do 57º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (CBPC/ML), realizado nesta quarta-feira (17), o tema dos biomarcadores de trauma cerebral foi discutido em profundidade. A conferência, ministrada pelo médico patologista clínico Gustavo Bruniera, membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), destacou os avanços no entendimento do TBI (Traumatic Brain Injury, ou lesão cerebral traumática) e seu impacto crescente na prática clínica.

“É muito importante a compreensão dessa patologia, porque o trauma cerebral não se restringe ao momento agudo. Ele traz, muitas vezes, déficits sutis, de longo prazo, que precisam ser reconhecidos para melhor cuidado do paciente”, afirmou Bruniera.


Segundo ele, o conceito atualizado de TBI, elaborado por grupos internacionais, define a condição como qualquer alteração da função cerebral ou evidência de patologia causada por uma força externa. Isso inclui desde perda de consciência e amnésia até alterações motoras, visuais e do estado mental. Os principais fatores de risco continuam sendo quedas - que afetam tanto idosos quanto crianças -, acidentes de trânsito e violência interpessoal. “Falamos de um problema de saúde pública global, com impacto social e econômico enorme, capaz de gerar milhões de anos vividos com incapacidade”, ressaltou.

Tradicionalmente, a avaliação clínica e a tomografia computadorizada de crânio são os pilares no diagnóstico. No entanto, em casos de trauma leve, menos de 10% dos pacientes apresentam alterações que justifiquem intervenção imediata. Isso gera superutilização de exames, sobrecarga dos serviços de emergência e custos elevados. “Não é todo paciente com trauma leve que precisa de tomografia. Precisamos de critérios claros e ferramentas complementares para apoiar essa decisão", explicou o patologista clínico. 

É nesse cenário que surgem os biomarcadores laboratoriais como alternativa promissora, conta Bruniera. Pesquisas recentes destacam três proteínas principais detectadas no sangue periférico: S100B, GFAP e UCH-L1. Esses marcadores refletem danos celulares no sistema nervoso central e permitem identificar pacientes com maior risco de lesão intracraniana.

“Os estudos mostram que, quando utilizados de forma adequada, esses biomarcadores podem reduzir em até 30% a realização de tomografias desnecessárias, sem comprometer a segurança do paciente”, afirmou Bruniera. Ele destacou que a proteína S100B já foi incorporada em protocolos escandinavos e franceses, enquanto a combinação GFAP + UCH-L1 recebeu aprovação do FDA em 2018, abrindo caminho para sua adoção internacional.


Embora ainda não estejam disponíveis rotineiramente no Brasil, essas ferramentas representam uma mudança de paradigma. Além de auxiliar no pronto-atendimento, têm potencial para acompanhar o impacto do trauma ao longo do tempo e contribuir para pesquisas em prognóstico.

“O futuro é promissor. A incorporação dos biomarcadores no fluxo diagnóstico do TBI pode trazer mais precisão, otimizar recursos e, acima de tudo, melhorar o cuidado aos pacientes”, concluiu Bruniera.