Publicado em: 18 setembro 2025 | 08:00h

Gavin Cloherty apresenta estratégias globais de vigilância e diagnóstico para antecipar crises sanitárias.

Durante a mesa sobre doenças emergentes do 57º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (CBPCML), realizada nesta quarta, 17, Gavin Cloherty, doutor em biologia molecular e bacharel em microbiologia e zoologia, destacou a importância de estar preparado para futuras pandemias. Cloherty, que atua na Abbott, trouxe uma visão detalhada sobre o monitoramento global de vírus e a inovação em testes diagnósticos como ferramentas essenciais para a saúde pública.

“A descoberta de um novo subtipo de HIV, chamado Subtype-out, nos lembra do porquê o trabalho que fazemos é tão importante", afirmou Cloherty. Segundo ele, essa descoberta é apenas o primeiro passo, permitindo que pesquisadores ao redor do mundo avaliem impactos nos testes diagnósticos, tratamentos e vacinas. Ele reforçou que a prevenção de infecções, como HIV ou hepatites, é o objetivo central do trabalho de sua equipe.  


O palestrante destacou a trajetória da Abbott na área de doenças infecciosas, começando pelo lançamento do primeiro teste de HIV aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA - agência federal do departamento de saúde e serviços humanos dos EUA) em 1985, seguido pelo desenvolvimento de testes (assays) para hepatite B e pelo lançamento, em 1994, do primeiro programa de supervisão viral global conduzido pela indústria. "Os vírus evoluem constantemente, e precisamos garantir que nossos testes diagnósticos acompanhem essas mudanças", explicou.

Cloherty detalhou ainda a criação, em 2021, da Coalizão de Defesa Antipandêmica, uma rede global de especialistas voltada tanto para pandemias existentes quanto para emergentes. "Estamos olhando para vírus conhecidos como HIV, hepatite B, sífilis e influenza, bem como para patógenos emergentes, para entender seu impacto potencial na saúde pública", disse. Ele destacou a importância da vigilância em tempo real, citando a rápida identificação de variantes do SARS-CoV-2 durante a pandemia de COVID-19 e a criação de 12 testes diagnósticos em apenas 12 meses, um feito que normalmente levaria de 3 a 5 anos.

O especialista explicou como a evolução viral pode impactar testes moleculares e sorológicos, afetando a capacidade de detecção precisa de antígenos e anticorpos. Por isso, o programa da Abbott envolve monitoramento contínuo em cinco continentes, em mais de 46 países, com coleta e sequenciamento de dezenas de milhares de amostras.

"Mais de metade dos rastros raros de HIV conhecidos foram encontrados por nosso programa nos últimos 30 anos. Todas as sequências geradas são compartilhadas publicamente para beneficiar a comunidade científica global", afirmou Cloherty.


O palestrante também apresentou casos recentes de monitoramento em países como Colômbia, Peru e Brasil, revelando descobertas inesperadas, como o picobirnavírus associado a encefalite em crianças. “Isso demonstra a necessidade de vigilância contínua mesmo para vírus antes considerados de baixa relevância clínica", ressalta. Cloherty enfatizou ainda a importância de parcerias locais, citando a colaboração com a Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Pesquisa Científica Butantan e a DASA no Brasil, que permitem que testes diagnósticos e sequenciamentos sejam realizados de forma descentralizada e ágil.

"A rede global que construímos permite comparar resultados, desenvolver rapidamente testes e redistribuí-los conforme necessário. Essa capacidade de resposta rápida é essencial para prevenir pandemias", afirmou Cloherty. Ele ainda destacou a transparência do programa, com dados compartilhados com Ministérios da Saúde, parceiros e a comunidade científica, e lembrou que o trabalho também é acompanhado de publicações e divulgação científica.

Para Cloherty, a preparação para a próxima pandemia exige um esforço coletivo, colaborativo e transparente. "Nenhuma rede consegue fazer isso sozinha. Precisamos compartilhar dados, melhores práticas e recursos para estarmos prontos para os desafios que virão", concluiu.