Edição Jan-Fev 2025 Publicado em: 30 janeiro 2025 | 16:00h

Diagnóstico de norovírus é fundamental para controle de disseminação da doença

Especialistas da SBPC/ML explicam como o vírus age e por que ele é tão transmissível

O norovírus ficou conhecido recentemente por ter sido o provável agente causador do surto de gastroenterite no litoral paulista, no início do ano. De acordo com especialistas da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), o vírus é transmitido via fecal-oral (em águas ou alimentos contaminados) e causa quadros de vômito e diarreia nas pessoas infectadas.
 

De acordo com Carolina Lázari, médica infectologista e patologista clínica da SBPC/ML, o norovírus tem características que o diferencia de outros agentes que causam as gastroenterites.

 

“Os vômitos, muito frequentes durante a fase aguda da infecção, contêm o vírus e, no momento em que a pessoa vomita, formam-se pequenas gotículas, aerossóis desse vômito, que o carregam. Assim, a contaminação de superfícies e objetos ao redor é muito frequente. A outra característica é que o inóculo, ou seja, a quantidade de vírus necessárias para infectar uma pessoa, é muito pequena. Então, pode acontecer transmissão de pessoa a pessoa, por exemplo, ao usarem o mesmo banheiro, compartilharem objetos na mesma casa ou dormirem juntas”, explica.
 

Esse aspecto, segundo Lázari, é um dos fatores que facilita a propagação desse vírus. E como ele é altamente transmissível, acaba causando surtos principalmente em áreas litorâneas, onde há grande circulação de pessoas, agora no verão.

 

"Além disso, alimentos preparados e consumidos nas praias, dependendo das condições, podem ser muito suscetíveis a contaminação. Caso o local não tenha saneamento básico, o contato ao nadar no mar, por exemplo, pode contaminar a pessoa também", acrescenta Andre Doi, diretor científico da SBPC/ML.

 

Como é feito o diagnóstico do norovírus?

Segundo os especialistas da SBPC/ML, o diagnóstico é feito por meio de exames de pesquisa de antígenos (teste rápido) ou teste molecular (PCR) nas fezes. “Em geral, o teste é solicitado para os pacientes imunossuprimidos e para aqueles que têm uma repercussão maior no estado geral, que precisam de internação, de hidratação endovenosa. Então, para esses é importante fazer o diagnóstico diferencial, principalmente com outros vírus que causam gastroenterocolite, como rotavírus, adenovírus, e com algumas bactérias, porque o quadro clínico pode ser muito semelhante”, diz a infectologista.
 

No entanto, o diretor clínico da SBPC/ML reitera da importância da testagem em todos os pacientes para o rastreio da doença. “Apesar de que, para o tratamento clínico, identificar o norovírus não pareça tão essencial, do ponto de vista epidemiológico e controle de disseminação da doença, identificar o agente causador das diarreias é fundamental. Sem o exame diagnóstico não é possível identificar esse vírus”, ressalta. 
 

De acordo ainda com ele, o teste rápido é a opção mais acessível e barata, já o PCR é mais sensível e específico para o diagnóstico da doença.

Tratamento e prevenção do norovírus

 

Carolina Lázari esclarece que: “Não há um tratamento antiviral específico. O tratamento é de suporte, focado na hidratação, que se não puder ser feita por via oral, caso a pessoa esteja vomitando muito, precisa ser por via endovenosa. Se houver repercussão no estado geral, febre, também, o uso de antipiréticos (medicamento que reduz a febre)”.
 

As pessoas com maior risco de evolução mais grave, conforme os especialistas, são as crianças e os idosos, porque a desidratação pode ocorrer de forma mais rápida e intensa, e pessoas imunocomprometidas (com doenças autoimunes e transplantadas, por exemplo). 
 

Para se prevenir da doença, Andre Doi enumera algumas ações que a população pode realizar como:

 - Não ingerir água que possa estar contaminada (tomar cuidado também com o gelo contaminado);


 - Lavar bem as mãos e alimentos;


 - Evitar contato com águas potencialmente impróprias para banho (mar, lagoas, chuveiros de barracas de praia, etc.).


O diretor científico da SBPC/ML ressalta ainda a importância do acesso à água de qualidade. “É essencial medidas de saneamento básico, como acesso à água potável tanto para beber como para lavar alimentos, escovar os dentes e tomar banho. Tanto o paciente quanto as pessoas que cuidam dos pacientes devem lavar bem as mãos após ir ao banheiro ou manipular as fezes do paciente”, finaliza.