Edição Jul-Ago 2025 Publicado em: 04 julho 2025 | 17:06h

Espectrometria de Massas e Dry Spot transformam o monitoramento de imunossupressores em transplantes no Brasil

Durante o Encontro de Especialidades Médicas a nefrologista e pesquisadora da Unifesp, Dulce Helena Casarini, apresentou um avanço significativo no monitoramento laboratorial de imunossupressores em pacientes transplantados

 

Durante o Encontro de Especialidades Médicas promovido pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), a nefrologista e pesquisadora da Unifesp, Profª Drª Dulce Helena Casarini, apresentou um avanço significativo no monitoramento laboratorial de imunossupressores em pacientes transplantados: a utilização da técnica de dry blood spot associada à espectrometria de massas.

Pioneira na introdução da ciclosporina no Brasil nos anos 1980, a professora Dulce compartilhou os resultados da validação de um método inovador que permite a dosagem simultânea de quatro imunossupressores — tacrolimus, sirolimus, everolimus e ciclosporina — a partir de uma única curva analítica e de um pequeno volume de sangue coletado por punção digital.

Segundo a pesquisadora, a iniciativa surgiu da demanda de profissionais de diversas regiões do país, especialmente Norte e Nordeste, que enfrentavam dificuldades logísticas no acompanhamento dos pacientes transplantados. A resposta veio por meio de um projeto PIPE da Fapesp, que financiou o desenvolvimento do método de dry spot validado em espectrometria de massas, hoje implementado e operando em 127 hospitais brasileiros.

Menos invasivo, mais acessível

A coleta via dry blood spot — amostra de sangue seco em papel — requer apenas 50 microlitros de sangue, podendo ser feita pelo próprio paciente em casa e enviada por correio, com estabilidade garantida por vários dias à temperatura ambiente ou meses sob refrigeração. A metodologia facilita o acesso de crianças, idosos e pacientes em regiões remotas ao monitoramento terapêutico de imunossupressores, além de ampliar as possibilidades da telemedicina.

Alta precisão analítica

Os dados apresentados demonstraram alta acurácia e baixa variabilidade inter e intraensaio para todos os imunossupressores analisados, com desempenho comparável aos métodos tradicionais de sangue total e laboratórios de referência nacionais. A integração de múltiplas drogas em uma única curva representa uma vantagem técnica e econômica frente aos kits de imunoensaio convencionais.

Além do sangue: monitoramento em leite materno

Outro destaque da palestra foi a aplicação inédita da técnica para detecção de imunossupressores no leite materno de mulheres transplantadas. A equipe da Unifesp desenvolveu um método específico de extração para esse tipo de matriz, confirmando a transferência das drogas e auxiliando os ginecologistas na orientação sobre a segurança da amamentação nesse grupo.

Desafios e sustentabilidade

Apesar dos benefícios clínicos e operacionais, a professora Dulce alertou para desafios relacionados ao custo inicial da tecnologia, à manutenção dos equipamentos e à necessidade de formação de especialistas em espectrometria de massas. Ela destacou, no entanto, que o investimento se justifica a médio prazo pelo custo-benefício do método e pela sustentabilidade operacional frente aos comodatos dependentes de consumo mínimo de reagentes.

Conclusão

A apresentação reforçou o potencial transformador da espectrometria de massas associada ao dry blood spot no cuidado com pacientes transplantados, promovendo equidade no acesso ao monitoramento terapêutico e contribuindo para a segurança e eficácia dos tratamentos imunossupressores. A metodologia, já em uso em hospitais de todo o país, representa um exemplo concreto da aplicação de inovação tecnológica em benefício direto da medicina personalizada e da gestão laboratorial.

A SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial) realiza o evento em conjunto com a Associação Brasileira de Espectrometria de Massas - BRMASS, Sociedade Brasileira de Patologia – SBP, Sociedade Brasileira de Triagem Neonatal e Erros Inatos do Metabolismo - SBTEIM, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - SBEM, Academia Brasileira de neurologia - ABN, Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia - ABHH, Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica - SBOC, e Associação Brasileira de Nutrologia - ABRAN. 

Entre os patrocinadores estão: The Binding Site, Sciex, Waters e Roche.

Veja abaixo a programação completa:  

 08:59 - 09:00 - Diretoria Biênio 2024-2025

 09:00 - 09:30 - Abertura oficial com Boas Vindas aos Participantes
 
 09:30 - 10:00 - História da Técnica

10:00 - 10:30 - A técnica e suas diferentes aplicações

10:30 - 11:00 - Proteômica e Metabolômica no diagnóstico de Câncer

11:30 - 12:00 - Mieloma Múltiplo e Doença Residual Mensurável

12:00 - 12:30 - ICP-MS na avaliação de Oligo elementos

12:30 - 13:00 - O exame toxicológico de larga janela de detecção (Exame do Cabelo)

14:00 - 14:30 - A aplicação da Espectometria de Massas na Avaliação Tecidual

14:30 - 15:00 - Maldi Tof - A quebra de paradigma na identificação dos microorganismos

15:00 - 15:30 - Teste do pezinho - A primeira aplicação na rotina do laboratório clínico

15:30 - 16:00 - Drogas Imunossuoressonas por espectometria de massas na avaliação do transplantado renal - Pós e Cons.

16:30 - 17:00 - LC-MS/MS na avaliação do painel de hormônios esteróides

17:30 - 18:00 - Biomarcadores para Alzheimer em plasma

18:00 - 18:30 - As Ceramidas na Avaliação Fisiopatológica da Aterosclerose

18:30 - 20:30 - Coquetel de Encerramento

As fotos do evento poderão ser acessadas pelo Flickr da SBPC/ML. 

Confira mais sobre o evento:

https://noticias.sbpc.org.br/noticia/espectrometria-de-massas-a-tecnica-e-suas-diferentes-aplicacoes-palestra-de-elvis-medeiros-medico-perito-ressalta-a-capacidade-de-identificar-compostos-em-concentracoes-infimas