Publicado em: 17 setembro 2025 | 12:30h

Laboratórios privados ampliam papel na vigilância genômica de vírus emergentes

No 57º CBPCML, especialista destacou como a integração entre rotina diagnóstica e pesquisa fortalece a saúde pública

A importância da vigilância genômica para o monitoramento de vírus de interesse epidemiológico foi tema da palestra do biólogo e pesquisador Miguel de Souza Andrade, nesta quarta-feira (17), durante a mesa sobre doenças emergentes do 57º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (CBPCML). Ele ressaltou o papel dos laboratórios particulares na geração de informações que podem orientar políticas públicas e antecipar respostas frente a surtos e pandemias.

“A vigilância genômica funciona como um radar molecular. Ela nos permite rastrear como os microrganismos evoluem, se espalham e se adaptam ao longo do tempo”, explicou Andrade. Segundo ele, esse tipo de monitoramento é essencial para identificar novas variantes, compreender a dispersão geográfica de vírus e avaliar se vacinas e testes diagnósticos continuam eficazes.


O pesquisador apresentou exemplos práticos de diferentes agentes virais, como febre amarela, SARS-CoV-2, influenza e vírus respiratório sincicial (RSV). No caso da febre amarela, a análise genômica ajudou a mostrar como novas linhagens do vírus migraram da Amazônia até o Rio Grande do Sul, permitindo compreender os caminhos de dispersão e orientar campanhas de vacinação em áreas de risco. 

No contexto da pandemia de COVID-19, laboratórios particulares desempenharam um papel decisivo. Andrade relatou o trabalho de sua equipe em Brasília, que, inicialmente, utilizou testes moleculares adaptados para identificar variantes do SARS-CoV-2 e, posteriormente, implementou o sequenciamento genômico por nanopore, tecnologia que permitiu acompanhar em tempo real a circulação de novas linhagens. “Chegamos a processar milhares de amostras em semanas críticas, e essa capacidade mostrou como a rotina laboratorial pode se transformar em fonte de dados valiosa para a saúde pública”, destacou.

Outro ponto central da palestra foi a parceria com o Instituto Todos pela Saúde (ITpS), que reúne dados de diferentes laboratórios privados para consolidar informações epidemiológicas. Essa colaboração permite acompanhar não apenas os casos positivos, mas também a taxa de positividade, o que antecipa a detecção de tendências de crescimento de infecções. “Antes mesmo do aumento no número absoluto de casos, já conseguimos observar a elevação da positividade. Isso liga o alerta e possibilita ações de prevenção mais rápidas”, afirmou.

Para Andrade, a contribuição dos laboratórios privados à vigilância genômica depende da combinação entre acesso às amostras, expertise técnica e colaboração com a academia: “A complexidade da biologia dos vírus e das metodologias de vigilância exige profissionais capacitados e parcerias sólidas entre laboratórios e instituições de pesquisa. Essa integração é cada vez mais necessária para proteger a saúde da população".