Publicado em: 17 setembro 2025 | 18:00h

Palestra Magna - Investimentos estratégicos na saúde brasileira ganham destaque no 57º CBPCML

Ex-ministro Luiz Henrique Mandetta conduz bate-papo com o empresário Nelson Tanure sobre oportunidades, desafios e parcerias público-privadas no setor de diagnóstico

A palestra magna do 57º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (CBPCML), realizada hoje, 17, trouxe o tema “Entrevista para o Futuro: caminhos do investimento em saúde no Brasil”. Conduzida pelo médico ortopedista e ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, em conversa com o investidor e empresário brasileiro Nelson Tanure, a sessão reuniu profissionais, gestores e investidores para debater os rumos do setor de saúde e as oportunidades de investimento no país.

Carlos Alberto Franco Ballarati, patologista clínico e ex-presidente da SBPC/ML, abriu o painel contextualizando a evolução do mercado: “O mercado evoluiu, os laboratórios se tornaram mais complexos, não só na área técnica, mas também na área administrativa. Hoje, vemos grandes empreendedores e investidores de fora do setor de saúde enxergando a medicina laboratorial e diagnóstica como um mercado extremamente atraente”. Ballarati destacou ainda o histórico de Tanure, “um investidor com mais de quatro décadas de atuação, dedicado a investir com visão de longo prazo em setores desafiadores, liderando processos de consolidação e crescimento de empresas como Alliança Saúde e Light”.

Durante a conversa, Mandetta questionou Tanure sobre o interesse no setor de saúde e, especificamente, em diagnóstico. O investidor respondeu com ênfase na relevância e na escala do setor:


“Saúde no Brasil é algo que tem um mercado imenso. Somos um país de 220 milhões de pessoas, que querem viver mais e viver melhor, com mais saúde. Se conseguirmos levar maior eficiência à saúde, teremos um setor extremamente pujante. A chegada de tecnologias como a inteligência artificial e telemedicina só vai reforçar isso". Tanure completou de forma pessoal: “Além disso, tenho uma filha médica me incentivando. Isso também contribuiu para minha decisão de investir no setor", acrescentou, referindo-se a Isabella Tanure, presidente do Conselho da Alliança Saúde.


Mandetta reforçou a necessidade de eficiência, citando dados sobre exames de sangue que não são retirados pelos pacientes e nem contabilizados pelo SUS, ilustrando a ineficiência do sistema. “Quando me formei, eram 289 exames de sangue possíveis. Hoje batemos 7 mil, e espera-se chegar a 20 mil tipos de exame com o projeto Genoma até 2035. O Brasil forma 46 mil médicos por ano, mas temos lacunas enormes na capacidade instalada para atender essa demanda”, ressalta. 

A conversa abordou também as parcerias público-privadas (PPPs) e sua importância para o setor. Tanure comentou sobre sua experiência na Bahia:

 

“Há 10 anos, a Alliança Saúde celebrou a PPP de Diagnóstico por Imagem com o Estado da Bahia, a RBD Imagem, pela qual investimos em infraestrutura, equipamentos e tecnologia de ponta, operando em 13 unidades de bioimagem dentro de hospitais da rede estadual e na Central Remota da Laudos. É um projeto de grande sucesso, que já possibilitou a realização de mais de 3,9 milhões de exames para os pacientes do SUS, com conforto, resolutividade e rapidez.”. Ele ressaltou que a presença do Estado deve ser estratégica e eficiente, mas com um marco legal claro: “O maior risco em uma PPP é a instabilidade política ou falhas na governança. O capital é avesso a risco, e precisamos de contratos auditados, de longo prazo, com segurança jurídica”.

 

O bate-papo também destacou a dependência tecnológica do Brasil e a necessidade de produção nacional de insumos: “Não produzimos nem bolsas de sangue, luvas ou respiradores de forma consistente. Precisamos cuidar do nosso quintal e desenvolver o que for possível no país”, afirmou Tanure. Ele avaliou ainda a política tributária brasileira e a desindustrialização, alertando sobre o impacto sobre a competitividade do setor: “O Brasil tem uma política tributária destruidora. Podemos produzir aqui, mas os impostos tornam impossível competir com produtos importados”.

Sobre investimentos futuros, Tanure se mostrou otimista, destacando que, mesmo em um cenário político instável, “o Brasil é um país cheio de oportunidades. Saúde é um mercado imenso. Recomendo separar política de negócios e focar naquilo que se pode construir, com eficiência e espírito de dono”. Mandetta reforçou a importância de preparar novas gerações: “É hora de incluir nas universidades cadeiras de empreendedorismo, administração e finanças em saúde. O profissional precisa entender o mercado e gerir recursos de forma eficiente”.

O encontro mostrou que o futuro do investimento em saúde no Brasil depende da combinação entre visão de longo prazo, eficiência na gestão, inovação tecnológica e parcerias estratégicas entre os setores público e privado, consolidando o diagnóstico como alicerce para o desenvolvimento do país. A palestra magna foi encerrada com uma mensagem de confiança: “Acreditem no Brasil. Temos que deixar um legado para este país que nos deu muito. Estudei em universidade pública e aprendi muito. Precisamos retribuir e ajudar o Brasil”, afirmou Tanure

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