Edição Set-Out 2024 Publicado em: 13 setembro 2024 | 11:00h

Uso de dados para a segurança do paciente: avanços e oportunidades

Mesa-redonda discute transmissão de resultados críticos, protocolo de sangramento, dados epidemiológicos em infecções respiratórias e definição de intervalos de referência

Uma mesa-redonda bastante diversificada aconteceu na manhã de quinta-feira, dia 12, durante o 56o. Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, em Salvador. Intitulada “O uso de dados para a segurança do paciente – avanços e oportunidades”, o encontro discutiu, dentre outros assuntos, sobre protocolo de sangramento, dados epidemiológicos em infecções respiratórias e definição de intervalos de referência.

 

Dr. Luciano Aguiar Filho, médico cardiologista, falou sobre a condução de resultados críticos centrada no desfecho e ressaltou a importância da diminuição do tempo entre diagnóstico e conduta médica para priorizar a qualidade e a segurança, valorizando essa última etapa para facilitar a jornada do paciente garantindo melhor experiência na linha do cuidado integrado. Segundo ele, é importante “um olhar completo e longitudinal da saúde do paciente, através de acesso a todas as bases do sistema integrado de saúde” e a “capacidade de geração de leads através do uso de Inteligência Artificial e reconhecimento automatizado de resultados alterados.” O doutor pontuou sobre a criação do “Escritório de Navegação” que administra a “Jornada Resultados Críticos” que tem como objetivo justamente “direcionar pacientes para o atendimento e diminuir o tempo entre o diagnóstico e tratamento”. Essa jornada é o começo da melhora do sistema de saúde.

 

Em seguida, o Dr. João Carlos Campos Guerra, coordenador médico do setor de Hematologia e Coagulação no Departamento de Patologia Clínica do Hospital Albert Einstein, falou sobre a experiência do protocolo de sangramento. Ele montou um laboratório de referência no Brasil para otimizar o tempo dos resultados, implantando um protocolo chamado Código H, que, quando acionado, envolve toda a equipe com cada departamento já executando ações pré-estabelecidas. Para coordenar todo esse trabalho, existe ainda uma sala de controle que monitora cada fase, verificando e cobrando que cada estágio seja cumprido. Além desse protocolo, que é voltado para eventos de choque hemorrágico, existe o Protocolo AVC, Protocolo SEPSE, Protocolo Heparina e Protocolo Dor Torácica, que fornecem respostas rápidas (20 a 45 minutos) com intuito de agilizar o atendimento melhorando a jornada do paciente e salvando vidas. Após a implantação desses protocolos, houve uma redução de 85% de mortalidade e diminuição de 7,5% de transfusões de sangue.

 

Com a melhora dos processos, reduz-se também o tempo de internação, que passou de 41 dias para 16 dias, em média, significando uma economia de quase 40 milhões de reais. A organização de protocolos institucionais no modelo PBM é fundamental para a segurança do paciente e a equipe multiprofissional é imprescindível na elaboração, implantação e controle desses protocolos.

 

A Dra. Carolina Lázari, médica infectologista e especialista em patologia clínica, expôs seu trabalho sobre epidemiologia de vírus respiratórios. De acordo com ela, é muito importante que o diagnóstico seja feito de maneira correta a fim de eleger o melhor tratamento. Um quadro de virose, por exemplo, não pode ser tratado com antibióticos. Sites como o Infogripe fazem o monitoramento de casos de síndrome respiratória aguda grave e ajudou muito durante a pandemia de COVID-19, sobretudo para direcionamento de recursos. Ela falou também sobre o trabalho que realiza no desenvolvimento de reports e boletins que são enviados mensalmente por mailings para médicos e publicados nos canais de comunicação para informação sobre doenças respiratórias. Os boletins começaram com dados sobre crianças (Infokids), depois adultos, adultos jovens e idosos (Infovirus), e mais recentemente também divididos por região (Infosul). Esses boletins fazem a diferença na prática médica, pois trata-se, não só de um assunto de inovação e tecnologia, mas também de ciência e responsabilidade social.

 

Por fim, o Dr. Alan Carvalho, mestre em Ciências da Saúde pela UnB, realizou sua fala sobre definição de intervalos de referência baseado em dados próprios. Ele explicou a técnica de amostragem indireta que “envolve a mineração de dados e a seleção de resultados laboratoriais de uma população mista (equivale a um conjunto de indivíduos doentes e não doentes) obtida de um banco de dados do Sistema Informatizado Laboratorial (SIL).”  Segundo ele, a amostragem indireta possui vantagens ao ser comparada com a técnica de amostragem direta por ser mais rápida, ter menor custo e não ter inconvenientes ou riscos aos pacientes, entretanto, embora seja relativamente simples e barata, é preciso tomar alguns cuidados extras para minimizar a representatividade de resultados de indivíduos não saudáveis, que podem estar presentes no banco de dados, de forma a falsear os resultados das estatísticas.

 

Para Dr. Alan Carvalho, não existe melhor ferramenta na comparação dos diferentes métodos, tudo vai depender dos dados e do contexto. Cada um tem suas vantagens, por isso, “uma combinação de diferentes metodologias pode melhorar o valor informativo e, portanto, a confiabilidade dos resultados.” Tão importante quanto escolher a melhor abordagem indireta para a estimativa do IR, é aplicar a filtragem do dataset para minimizar o subset de resultados patológicos.

 

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